Fábio L R Simão. Professor dos cursos de Administração e Gestão de Empresas (Processos Gerenciais). Mestre em História. Doutorando pelo Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora
Lojas vazias são retrato da crise (Foto: MorgueFile.com)
Fábio L R Simão. Professor dos cursos de Administração e Gestão de Empresas (Processos Gerenciais). Mestre em História. Doutorando pelo Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora
Em 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou aquela que seria a maior descoberta de petróleo do país, seu “passaporte para o futuro”. No mesmo contexto, o Brasil obteve concessão para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Uma das economias mais imponentes do mundo alavancava projeção internacional de monta significativa. Os BRICS apontariam também nessa direção. A crise financeira global deixava espaços para novas conexões do Brasil na África e na Ásia. Assim o efervescente mercado de commodities, por exemplo, dava mostras da atraente e promissora economia do Brasil num cenário de francos declínios e oscilações internacionais. Era tardia, mas consistente, a mudança de posição internacional do Brasil.
Depois do rápido sucesso das commodities e da expansão da economia interna brasileira, todavia, o cenário foi de uma recessão tão profunda e longa que foi chamada de “depressão econômica definitiva” pela Goldman Sachs — grupo multinacional do segmento financeiro dedicado a investimentos e gestão de valores mobiliários.
A crise deflagrada com a operação Lava Jato, realizada em conjunto pela Justiça Federal, Ministério Público Federal e Policia Federal para investigar crimes de corrupção, desvio, improbidade, lavagem de dinheiro, pagamento de propina e trafico de influencia, envolveu membros da elite nacional e políticos importantes, inclusive diretamente ligados ao atual governo. E tudo envolvendo exatamente a gigante estatal do petróleo, a Petrobras. Assim o Brasil do pré-sal torna-se o Brasil dos escândalos.
Os promotores acusaram Lula, que nega qualquer irregularidade. Sua sucessora, Dilma Rousseff, enfrenta hoje um processo de impeachment no Congresso Nacional. E a nação, estarrecida, atuante, mas por vezes sem um norte especifico a seguir, assiste e discute a situação nas redes sociais a todo o tempo.
Dilma sinalizou sua determinação para travar um “tudo ou nada” para permanecer no cargo, nomeando Lula para seu gabinete em meados de março. Um juiz federal, contudo, suspendeu a nomeação, que protegeria Lula da acusação por qualquer agência diferente do Supremo Tribunal e permitiria aproveitar suas habilidades de negociação de renome para defender Rousseff de um possível impeachment. Seguiu-se um protesto antigoverno que foi uma das maiores manifestações da história moderna do Brasil. A economia brasileira, maior da América Latina, encolheu 3,8 % no ano passado –marca recorde em um quarto de século. A moeda perdeu mais da metade do seu valor desde 2011, quando Rousseff subiu ao poder. Rousseff mal ganhou a reeleição em 2014, comprometendo-se a combater a inflação, que está nos dois dígitos. Ao assumir o cargo com um inédito déficit orçamentário, seu governo aumentou os impostos e restringiu os gastos do governo, em diferentes áreas, visando equilíbrio orçamentário. Um ano depois, anunciou um pacote de crédito para agricultura, infraestrutura, indústria e construção no valor de cerca de R$ 76 bilhões, em uma tentativa de reanimar a economia. Acusações de que ela alterou contas para minimizar o tamanho do déficit orçamentário são a base para o processo de impeachment contra ela. Ela nega qualquer irregularidade.
O Brasil sofreu ciclos de expansão e retração e instabilidade política desde a independência de Portugal em 1822. No papel, o Brasil parece uma potência: é o quinto maior país do mundo, pela massa de terra e de população; suas reservas de petróleo ‘offshore’ incluem a maior descoberta do hemisfério ocidental desde 1976; tem a segunda maior reserva de minério de ferr; é o segundo maior produtor de soja e terceiro maior do milho. Por outro lado, sua distribuição de riquezas permanece entre as mais desiguais. Foram tempos em que o balanço de pagamentos e um relativo equilíbrio tributário se tornaram modelo internacional para a erradicação da pobreza. A nova classe média foi às compras, impulsionando o crescimento. Agora, com os preços das commodities caindo e pulverização da indústria, esse modelo parece não mais no seu curso.
De mais a mais, isso tudo parece ter coerência com um governo que pretende trazer para níveis econômicos de classe média as classes historicamente menos favorecidas do Brasil. O fato é que, para isso, é preciso uma política de repasse e fiscalização muito coerente e precisa. Não que o governo não tenha essa estrutura, mas quando tudo isso pode ser usado em benefício de grupos políticos interessados no poder pelo próprio poder e no governo para o bem próprio, a gestão e o sucesso desse empreendimento pode comprometer a credibilidade da nação como um todo e, com isso, dos investidores internacionais que repatriam dólares contribuindo ainda mais para a desvalorização da moeda. Tudo isso mostra o quanto a crise política pode causar crises econômicas e aumentar a sensação de instabilidade diante dos mercados nacional e internacional.